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Futsal feminino tem sua própria "Marta" e sobra em estrutura diante do campo

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

18/01/2012 06h00

O futebol feminino de Marta e companhia vive mais uma crise com a recente extinção do time do Santos, o mais vitorioso do país. Suposto “primo pobre”, o futsal vai pelo caminho inverso. Com parcerias com universidades e mais estabilidade para as atletas, a modalidade sobra na comparação e tem até sua própria “Marta”.

Vanessa Cristina Pereira tem 21 anos, nasceu em Patos de Minas-MG e atua no Female/Chapecó. Além de acumular títulos pela equipe catarinense e pela seleção brasileira (bicampeã da principal competição internacional da modalidade), a jogadora ainda foi eleita a melhor do mundo nos últimos dois anos pelo site europeu futsalplanet.com, a mais prestigiada do futsal, que carece de mais atenção da Fifa.

A comparação com Marta, no entanto, é rapidamente descartada. “As pessoas falam isso, mas não dá. Ela é fora de série, faz coisas que não dá para imaginar. Fico feliz porque engrandece meu trabalho, mas não consigo pensar: ‘hoje sou que nem a Marta”, disse Vanessa, em entrevista ao UOL Esporte.

A jogadora é só a ponta do iceberg do futsal feminino que, na comparação com o futebol, ganha com sobras, mesmo que ainda tenha uma estrutura longe da ideal. Enquanto as meninas do campo sofrem com um calendário confuso e incerto, no salão são cerca de oito competições por ano somente para clubes.

São duas competições nacionais (Taça Brasil e Liga Futsal), estaduais, competições universitárias e jogos abertos regionais e nacionais. Além disso, as seleções universitária e profissional completam o calendário com pelo menos uma convocação anual cada uma.

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O futsal perde, no entanto, no alcance internacional. As meninas do salão ainda não têm um Mundial chancelado pela Fifa, mas sim uma espécie de mundialito que reúne as principais seleções desde 2010. As estrelas da modalidade também não conseguem a visibilidade de jogadoras como Marta e Cristiane, por exemplo. 

Jogadores sem tanto apelo, no entanto, estão a ver navios. Grande parte da equipe do Santos segue sem emprego depois do cancelamento da equipe, processo que já aconteceu com outros times anteriormente, como o Corinthians. Com isso, as brasileiras são obrigadas a sair do país para viverem só de futebol, ao contrário do que acontece no futsal. 

A estrutura está longe de ser rica. Quase todas as equipes de ponta, no entanto, contam com parcerias com universidades e empresas da região, que garantem o custeamento dos times, treinos e viagens. A Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) ajuda com seus patrocinadores próprios e custeia os alojamentos das equipes visitantes em algumas competições.

As jogadoras têm entre si um acordo informal de sempre exigirem o ingresso em uma faculdade de seus clubes. Quando se transferem, por exemplo, acertam salários e onde estudarão para só depois fecharem com a nova equipe. O cenário, mesmo com salários modestos, faz as jogadoras descartarem uma possível troca para o campo.

“Hoje em dia, depois do que aconteceu com o Santos, não trocaria. Até tinha pensado nisso no ano passado. O futsal também tem uma certa insegurança. Mas eu tenho uma amiga que estava no Santos e está desempregada”, disse Jessika, também do Chapecó, que disputou com Vanessa o título de melhor do mundo.

O cenário claro, não é o ideal. As jogaras reclamam, principalmente, da visibilidade que não possuem. Um acordo para transmissão de partidas seria, na visão dos envolvidos, o passo fundamental para a consolidação do esporte.

“Hoje a gente tem um orçamento que só vai crescer se entrar na televisão. Aí mudaria a ótica do nosso esporte”, disse Eder Popiolski, técnico do Chapecó. “O nosso esporte não tem massa por trás. Precisa de mídia. E quem vai ver um jogo de futebol feminino vai ver emoção. O Futsal tem muito a dar”, disse Marcos Sorato, técnico da seleção masculina e auxiliar da feminina, que é comandada pelo ex-jogador Vander Iacovino.